Em tempo de coronavirus, a ordem é preencher o tempo. E tome livros, televisão, rádio e o celular com as várias plataformas que as redes sociais oferecem
E foi numa delas, que me emocionei, ao curtir uma entrevista feita há muitos anos pelo locutor esportivo Pedro Luís Paulielo.
Pedro foi o melhor de todos, num tempo de extraordinários narradores em que o rádio era, em boa parte romântico e o futebol também.
Fiori Gigliotti, Flávio Araújo, Joseval Peixoto, Edson Leite, Haroldo Fernandes, Ennio Rodrigues, Darcy Reis, Alfedo Orlando, só para falar do rádio paulista.
Garoto ainda, na minha pequena Colina, ouvido colado ao rádio de cabceira, eu vibrava com aquelas vozes, que num passe de mágica, me levavam aos estádios, transformados e palco de jogos históricos, que ainda hoje, passados tantos anos, povoam a minha memória.
Pedro Luís foi o melhor. Como narrador e líder de equipe.
Por isso, não fiquei surpreso quando, na entrevista, ele fez referência a muitos que com ele trabalharam, figuras importantes na história do rádio esportivo.
E foi assim que, entre tantos nomes, ele citou o de Luís César, “um grande locutor”.
Foi, para mim, o disparar de uma viagem no tempo, uma volta ao passado.
Me vi nos estúdios da Rádio Barretos, no distante ano de 1962. Começo de carreira, num tempo em que o rádio era forte e a PRJ-8 tinha nomes consagrados. E eu no meio deles, nervoso, errando e aprendendo. Quando pensei em parar, ouvi do Luís César” Você não está aqui por acaso. Fez por merecer, continue”. Até hoje, com 58 anos de rádio, seu exemplo e conselhos continuam sendo pilares da minha vida jornalística.
Depois, a seu convite, fui para Uberlândia.
A Rádio Educadora foi a minha verdadeira escola. Foi uma honra conviver com profissionais como Darcy José, Luiz Humberto Aspesi, Goiás Olinto Brandão e tantos outros. Aprendi muito. Foi no estádio “Juca Ribeiro”, transmitindo jogos do Uberlândia, que gritei meus primeiros gols. Me considero um privilegiado, sempre tive ao meu lado pessoas interessadas em me ensinar. Serei sempre grato a elas.
Depois de dois anos, voltei a Barretos. O Luís César ficou e completou seu curso de
Direito. Mas jamais deixou o rádio.
Fez jogos em Ribeirão e depois foi para São Paulo, a convite de Pedro Luís, na Gazeta e na Nacional, hoje Globo. Nos encontramos em várias ocasiões.
Luís César ainda voltou a Barretos, para fazer rádio, jornal e televisão. Em seguida, a convite de João Monteiro de Barros Filho, assumiu funções no jornalismo da Rede Vida, em São José do Rio Preto. Transmitiu vários jogos da Ferroviária. Também aqui esteve em duas ocasiões especiais: na festa de apresentação dos Campeões da Bola e receber o título de “Cidadão Araraquarense”, outorgado pela Câmara Municipal, iniciativa do então vereador Valderico Jóe. Os dois eram grandes amigos desde Baretos, quando Luís César narrava os gols que Valerico marcava, vestindo a gloriosa camisa do inesquecível Fortaleza.
Foi na sessão solene da Câmara, que conversei, pela última com o Luís César e com a sua esposa Saly. Tive notícias, mais tarde, sobre o seu estado de saúde e o seu falecimento. Para mim, foi um choque. O tempo, esse inimigo imbatível, não permitiu uma última visita. Até hoje, me cobro por isso.
Nessa altura, vocês devem ter percebido que, quando falo do Luís César, estou me referindo a Luís Carlos Fabrini. “Luís César” era o “nome de guerra” adotado no rádio.
Peço desculpas e pelo tempo que tomei, mas a menção de Pedro Luís ao meu estimado professor falou mais alto. Tinha que escrever algo a respeito de quem me ensinou muito. Feliz em Araraquara há 45 anos, “Cidadão Araraquarense” com muito orgulho, ainda mantenho intactos os laços com o início da minha carreira.
Sempre grato pelo aprendizado, caro mestre.
Bons tempos!
José Roberto Fernandes é jornalista e integrante da equipe Os Campeões da Bola