Texto: Jonatan Dutra/Ferroviária SA
Foto: Arquivo Pessoal
Ele é o quarto treinador que mais comandou a Ferroviária na história, com 169 jogos, além de ter uma carreira vitoriosa como jogador na Itália. Sérgio Clérice, 79 anos, ex-atacante, é natural de São Paulo e contou um pouco da sua história ao site oficial da Ferroviária.
Sérgio Clérice teve uma carreira como jogador, voltada ao futebol italiano. Teve seu início no Nacional-SP, passou pela Portuguesa Santista-SP e pelo Palmeiras-SP, depois disso foi para o continente europeu, onde fez história. “Fui para um clube pequeno que tinha subido na primeira divisão, fiquei lá por volta de cinco anos. Eu fui muito novo, com 18 anos e eu tive minha carreira. Comecei no Lecco, aí eu passei por Bologna, que já era um clube maior e considerado grande, Atalanta, Verona, Fiorentina, Napoli e Lazio. Então tive grandes momentos na Itália e fui muito feliz jogando lá”, afirmou Sérgio.
Sérgio Clérici teve boas passagens na Itália e em uma delas, atuou pela Atalanta.
Entre os clubes que o ex-jogador fez história, está o Hellas Verona, clube que o homenageou em 2019. “Me ligaram e o clube estava fazendo uma homenagem a quem jogou no Verona. Tive uma trajetória muito bonita por lá. Fiz um campeonato muito bom e depois fui vendido para a Fiorentina. Essa homenagem foi uma coisa que eu nunca esquecerei, porque os torcedores que me viram jogar, vinham me cumprimentar, conversar comigo, não me deixavam em paz, porque queriam falar comigo, pedir autografo, tirar uma foto. Isso mostra que eu fiz meu trabalho muito bem. E foi uma homenagem muito bonita. Eu nunca esperava ter uma homenagem como eu tive em Verona”, contou Clérice.
Após deixar a Itália, Sergio foi para o Canadá, onde jogou uma temporada e também foi campeão no país. “Eu tive uma proposta muito boa para ir ao Canadá e fui, novamente, muito bem. Eu fui o artilheiro do campeonato e nós fomos campeões. Foi uma experiência muito legal também.”
Em 1978, aos 37 anos e após uma longa trajetória fora do país, Sérgio decidiu voltar ao Brasil, chegando em Araraquara e recebendo o convite de jogar o Campeonato Paulista pela Ferroviária, porém, de acordo com o ex-jogador, não teve muitas oportunidades já que, como ele conta, os planos eram outros. “Em questão de qualidade técnica, não devia para ninguém, apesar da idade. Eu treinava nos reservas, fazia quatro, cinco gols, mas o treinador não me colocava para jogar. No final do ano, depois que acabou o campeonato, eu encerrei a carreira e me chamaram para ser treinador”, falou.
De acordo com Sérgio, a transição para treinador não foi fácil, mas foi algo que ele tinha intenção. “É bem difícil. Porque, quando você é treinador, a pressão pelas vitórias aumenta. E quando perde um jogo, o técnico é duramente criticado. Eu lembro muito bem das minhas passagens por grandes clubes como o Palmeiras, por exemplo, onde tivemos 23 jogos e apenas duas derrotas. Nas derrotas, fui duramente criticado. Então, não é fácil essa transição. Porém, tive uma trajetória muito legal, com momentos bons e ruins, o que faz parte do futebol.”
Pelo Verona, o ex-jogador é ídolo e foi homenageado no ano passado.
Sobre a intenção de ser treinador, Sérgio se preparou quando ainda jogava na Itália. “Eu fiz o curso lá, enquanto jogava no Napoli. Tenho o diploma comigo aqui, inclusive. Mas não foi algo que eu procurei. Quem falou comigo foi o Gama, que era presidente da Ferroviária na época. Ele e o Parelli vieram na minha casa conversar comigo e me ofereceram o cargo de treinador e eu aceitei o desafio. Não foi fácil. Jogar 18 anos na Itália e depois voltar ao Brasil, onde é tudo muito diferente. A questão de jogo, obediência dos jogadores, aqui tem atleta que te escuta, outros não. Mas ainda assim, minha carreira como treinador foi muito boa e no primeiro ano, fizemos uma grande campanha no Campeonato Paulista”, contou Clérice.
Naquele ano, a Ferroviária tinha em seu elenco jogadores que fizeram história com o manto grená como Sérgio Miranda, Wilson Carrasco, Douglas Onça e Sérgio Bergantin. No Paulista de 79 foram 43 jogos, 12 vitórias, 20 empates e 11 derrotas. A equipe marcou 33 gols e sofreu 37.
Ao todo, Sérgio Clérice teve cinco passagens pela Ferroviária nos anos de 1979, 1982, 1984, 1987 e 1996. “Acredito que a mais marcante delas foi a primeira, onde conseguimos fazer um grande campeonato. Uma outra passagem que eu lembro, foi quando eu trouxe o Marcão para cá. Ele estava na Inter de Limeira e veio para a Ferroviária. Montamos um time muito forte naquele ano, mas como eu disse, treinador não pode perder. Eu perdi alguns jogos, vieram as críticas e eu saí. A Ferroviária chegou ao Brasileiro com o time que eu montei, mas ninguém lembra.”
Com toda essa história, Clérice é o quarto treinador que mais comandou a Ferroviária na história, com 169 jogos. “Eu tive uma história muito bonita na Ferroviária e fiz meu nome aqui. Além de campanhas boas, eu revelei muitos jogadores que fizeram história no clube e também no futebol nacional. Nomes como Douglas Onça, Vica, Marco Antônio, são jogadores que fizeram seu primeiro jogo na história, comigo. Eu não tinha medo de arriscar. Se faltavam jogadores, eu recorria às categorias de base e colocava para jogar. Esses atletas, com 18 ou 19 anos, já estavam disputando a primeira divisão do Campeonato Paulista comigo”, lembrou.
No futebol italiano, Clérici também passou pelo Napoli.
Por ser o primeiro clube que lhe deu a oportunidade de comandar uma equipe, Sérgio é muito grato à Ferroviária. “Representa muita coisa na minha vida. Foi ela que me deu a chance de ser treinador. Me deu a chance de trabalhar no Palmeiras, Santos, que são dois clubes grandes do futebol nacional. Então, ela representa muita coisa para mim, porque trabalhando na Ferroviária, quem estava de fora, me acompanhava e se vieram me procurar, é porque eu estava fazendo um grande trabalho. A Ferroviária representa tudo para mim no futebol, como treinador”, finalizou.