RCI – Araraquara!
Bandeira do Estado servia como ‘posto de arrecadação’ de diversas peças para auxiliar a ‘causa paulista’; jovens a carregavam pela cidade
Compreendida de maneira resumida como uma reação armada imediata do Estado de São Paulo, a Revolução Constitucionalista de 1932 questionou os novos rumos tomados pelo cenário político nacional sob o comando de Getúlio Vargas.
O conflito, que ocorreu entre julho e outubro daquele ano, é considerado pelos paulistas como o maior movimento cívico de sua história. E neste mês, no dia 9, os paulistas lembram da data com um feriado e muito orgulho no coração.
Araraquara teve uma forte participação na Revolução. Mesmo sendo à época uma pequena cidade, ela enviou para as frentes de batalha 541 de seus filhos. Desses, apenas seis araraquarenses não retornaram. Morreram em combate Bento de Barros, Diógenes Muniz Barreto, o tenente Joaquim Nunes Cabral, Waldomiro Machado, José Cesarini e Joaquim Alves. Estes se alistaram no Clube Araraquarense (prédio onde funciona hoje a Fundart). Lá, uma enorme faixa foi instalada convocando homens (independente da idade ou condição social), a prestarem serviços como voluntários à causa paulista.
A comoção era geral. Grandes fazendeiros e pequenos agricultores colaboraram com alimentos e outros artigos para sustentar as forças de São Paulo nas frentes de combate. A população também fazia suas doações por meio de uma enorme bandeira de São Paulo que era carregada pelas ruas da cidade aos gritos “Ouro para São Paulo”.
Nela, as pessoas depositavam alianças, anéis, relógios, pratarias, dinheiro, roupas, entre outros itens. Ao fim, ela era levada dobrada até a Casa Barbieri para contabilização (Rua 9 de Julho esquina com Avenida Duque de Caxias). Lá, um emissário despachava as arrecadações em trem da Companhia Paulista de Estradas de Ferro rumo ao Governo Revolucionário, em São Paulo, sediado no bairro dos Campos Elísios, proximidades da Estação da Sorocabana, na Avenida Rio Branco.
Naquela época a Rádio Cultura Araraquara recém inaugurada, operando em Ondas Médias (AM) e sintonizada na frequência de 1.370 kilohertz (prefixo de PRD-4), realizava suas transmissões dentro da Casa Barbieri.
A emissora instalou diversos alto-falantes fora do local e transmitia diariamente para toda cidade o programa “Notícias do Front” e lia “As Cartas do Front”, que eram as cartas enviadas pelos araraquarenses que se encontravam nas frentes de batalha.
Uma de suas características marcantes foi a intensa participação feminina. Naquela época, as damas ocupavam um papel secundário no cenário político brasileiro, porém as paulistas se envolveram diretamente na causa de seu Estado. Além de costurar, elas também ficavam responsáveis pelo auxílio em enfermarias e também em refeitórios.
Só no primeiro mês da revolução, 7,2 mil mulheres confeccionaram 440 mil peças de farda destinadas aos soldados. Refeições eram servidas pelas mulheres nas Casas de Soldado localizadas por todo o Estado. Só em uma delas, foram servidos 149 mil almoços nos dois primeiros meses de atividades.
Em Araraquara, essa realidade não foi diferente. À época, muitas moças ocupavam as escolas da cidade, remendando meias, calças, blusas, além do monitoramento da arrecadação de alimentos.
Os principais pontos de trabalho eram nas seguintes instituições escolares: Antônio Joaquim de Carvalho, Colégio Progresso e o Grupo “Carlos Batista Magalhães”. O trabalho era difícil, ocupava o dia todo. Muitos estudantes, principalmente os mais velhos, também participavam, ajudando em variadas situações.
Mas, entre as araraquarenses, ninguém teve a coragem de Dona May de Souza Neves, esposa do médico Camillo Gavião de Souza Neves. Ela deixou a cidade e rumou para a Capital, onde prestou serviço hospitalar para Assistência ao Soldado Constitucionalista. May não era formada em Enfermagem, mas tinha certa experiência no ramo, pois no consultório atuava como auxiliar do marido.
O Mausoléu ao Movimento Constitucionalista de 1932 foi inaugurado no dia 9 de julho de 1934. Hoje, ele está localizado na 1ª rotatória da Avenida Bento de Abreu, na Fonte. A transferência dele do Cemitério São Bento para o local ocorreu no ano de 1972.