28/04/2020: 44 anos da despedida do maior ídolo e jogador da AFE: Bazani!Araraquara News!

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Lembrar-se de Olivério Bazani Filho, nesse ano em que a Ferroviária regressou à elite do futebol paulista e o clube completa 65 anos é obrigação de todo afeano. Não tive a chance de vê-lo jogando, tampouco um vídeo dele em ação. O que sei sobre Rabi, saiu da boca dos grenás de outras, dos cronistas e do próprio jogador, que sempre com muita humildade contava seus grandes feitos, sem nunca alardear os fatos. Que saber a verdade? Há muito tempo deixei de lado a vontade de saber como ele jogava, porque no meu imaginário não é difícil estabelecer parâmetros do futebol praticado pelo “reizinho da Fonte”, tendo no inconsciente o fino trato com o qual ele tratava a bola. Ao escutar os relatos de seus ex- companheiros de clube, e adversários, o que eu simplesmente fazia, é o exercício de imaginar. Fico a imaginar aquele fatídico domingo de 1933, dia em o zagueiro corintiano Olivério Bazani (seu pai), sofreu o acachapante revés por 8 a 0 para o Palmeiras, que mudou sua história dentro do alvinegro e principalmente no futebol. Depois da derrota, dificilmente seu Olivério iria conceber a ideia de ter um filho jogador. Tinha entendimentos dos altos e baixos da carreira. Na falta de um, teve dois: Bazani e Bazaninho. Fico a pensar como o menino tranquilo, religioso e, sobretudo estudioso, conseguiu mudar a opinião do pai a respeito “da bola”, seguindo sua sina. Imagino como no infantil do Mirassol deve ter aterrorizado os adversários, causando frisson nos mirassolenses, que assistiam aos jogos dos garotos. Seu primeiro treinador (Anésio Pelicione) deve ter ficado estonteado com a pepita de ouro que foi parar em suas mãos. Com o jovem Bazani, dificilmente o Mirassol era batido em seus domínios. Quando citam sua chegada à Fonte, imagino, pouco tempo antes, como Rabi deve ter encantado os dirigentes da Ferroviária, no primeiro encontro entre o futuro camisa e a AFE, no jogo que aconteceu em Mirassol. O juvenil afeano perdeu de 8 a 0 e não viu a cor da bola.

Passagem por Campinas O antecessor de Bazani com a camisa 10 foi Zé Amaro. Rabi gostava de contar que não fosse a saída do meia para a Portuguesa de Desportos, dificilmente teria chances de ser titular do escrete grená. Aconteceu que ele acabou rumando para a Mogiana de Campinas. Penso que nesse período ele deve ter pensando em aprimorar mais ainda a canhota, se impondo para suplantar as dificuldades de um aspirante à atleta profissional. Assim como o camisa 10 cansaria de surpreender seus adversários, sua conduta ao deixar a Princesa d’ Oeste, rumando para o Grêmio Esportivo Monte Aprazível em 1953, é de difícil compreensão, não fosse o valor apregoado a família e ao estudo. Embora fosse uma promessa, a prioridade ainda não era o futebol.

Do Jacaré para o Fluminense! Pouco tempo depois, surge em sua vida o Rio Preto Esporte Clube, time no qual o jogador assinaria seu primeiro contrato profissional, porém no final de 53, aos 18 anos, dois amigos o convenceram a fazer teste na Ferroviária. No dia 6 de fevereiro de 1955, após uma sessão de cinema, Bazani foi chamado às pressas para estrear pela AFE na vitória sobre o Paulista local, no Estádio Municipal. Assinalou um tento na vitória por 3 a 0. No segundo duelo em Catanduva, mais dois gols anotados de falta. Imagino como deve ter ficado a cabeça da comissão técnica e da diretoria afeana, ao ver o garoto encantando, e sabedora que ele tinha um convite do Fluminense para realização de um teste no Rio de Janeiro.
A temporada em Campinas foi o suficiente para que o time das Laranjeiras tivesse interesse pelo garoto. Naquele período despertar a atenção de uma equipe tão tradicional não era feito comum. Imagino que no curto espaço de tempo na Mogiana, Bazani deve ter sido perfeito em todos os fundamentos, criação, assistências, nos gols e na genialidade que faria não muito tempo depois, a torcida da Ferroviária se curvar perante seu futebol. Estar no Rio de Janeiro, apoteose do futebol brasileiro e palco da última Copa do Mundo era um privilégio. Imagino que as duras penas Bazani conseguiu convencer a AFE a liberá-lo, e lá, com todos seus recursos e predicados, não dificuldades de convencer o corpo diretivo do Tricolor Carioca.

Manobra do Picolin e fuga das Laranjeiras! O que tive compreensão após conhecer Bazani, foi imaginar a reação de Rabi ao se deparar com a cidade grande, mas especialmente com a cláusula que desconhecia em seu contrato, realizada por Picolin, que versava ter a AFE prioridade na compra do jogador ao término do empréstimo. Ou seja, estava preso à Ferroviária. Rabi deve ter ficado apavorado, já que era muito responsável e não sabia da minuta na documentação. Para a realidade da época, tal manobra matava qualquer contrato! Bazani foi aprovado, porém não pensou duas vezes, e vislumbrando a encrenca que seria explicar o porquê daquela situação, além da saudade da família e a possibilidade de perder o primeiro ano de Odontologia na UNESP, juntou o que tinha na mochila e fugiu da concentração do Fluminense, regressando à Araraquara. Indagado sobre sua melhor atuação pelo time, Bazani não titubeava, e remetia ao jogo do acesso a elite do estado frente ao Botafogo de Ribeirão Preto na Fonte. Na feita, 80 mil araraquarenses vibraram com a auspiciosa atuação do time, e do jovem Bazani que no triunfo por 6 a 3, além de marcar dois gols, destruiu a defesa adversária. O estádio recebeu grande plateia. Rapidamente foi convocado para a Seleção Paulista, para atuar no certame que reunia as seleções de todos os estados do país. Bazani atuou ao lado de nomes como Pelé, Pepe, Dorval, Chinesinho, Zito, Coutinho e Servilio. Indiscutivelmente Rabi estava na vitrine do futebol nacional. Fico a pensar como o craque não ficava deslumbrado com o próprio futebol e a perplexidade da imprensa esportiva perante suas atuações. Contemporâneos afirmar que o camisa 10 dizia ser apenas um jogador normal.

A Fiorentina e o Milan quiseram o Rabi! Como imaginar que um simples garoto de Mirassol, tendo apenas prioridades acadêmicas, seria ídolo no futebol nacional, e pretendido por clubes internacionais, como ocorreu em 1960 com a Fiorentina da Itália? A decisão em contar com meia surgiu após um amistoso em que a AFE, por uma ironia do destino enfrentou o Fluminense. Numa tarde de gala do meia, a Locomotiva golpeou o time carioca por 5 a 1 na Fonte Luminosa. Para a transferência na época, os valores chegariam a 10 milhões de cruzeiros. A Ferroviária via a proposta como irrecusável, mas alguns fatores impediam a negociação – a Federação Italiana estabelecia a idade limite de 23 anos para a transferência de atletas estrangeiros, e Bazani iria completar 25-. Mesmo com a possibilidade dos dirigentes italianos acharem uma brecha na lei, Rabi estava muito mais interessado na odontologia, e, sobretudo na Ferroviária. A Fiorentina ainda insistiu, mas Bazani permaneceu. Já em 61 quem quis o concurso de Bazani foi o Milan. O time milanês tinha Mazzola, o brasileiro naturalizado italiano em suas fileiras, que acabou indicando o afeano. O interesse ficou apenas nas conversações, já que mesmo se tratando de uma das maiores potencias do futebol mundial, faltava apenas um ano para o jogador tornar-se dentista. Tal obstinação pelo estudo foi um dos entraves para o avanço na tratativa. Mui¬tos clubes chegavam com propostas para tirar Bazani da Ferroviária. Invariavelmente, ele era colocado em uma equipe da capital pela imprensa, e o valor pelo futebol do craque, agora doutor, era cotado em 20 milhões de cruzeiros.


Quem acabou levando foi o Corinthians! Contudo, foi o Corinthians, ex-clube do seu pai, que diante do jejum de títulos que carregava desde 1954, quem fez a melhor proposta, superando as cifra oferecida pelo Palmeiras para ter o meia. Enquanto participava da segunda excursão da AFE ao exterior em 1962, os dirigentes do alvinegro paulista ofereceram 30 milhões de cruzeiros para ter o jogador – 2 milhões em luvas, além de ter um dos maiores salários do clube-. Em mais uma ironia do destino, Rabi seguiu o caminho de seu pai e chegou ao Corinthians, mas nesse caso chegando com muita pompa e um contrato de dois anos. Imagino que nos treinamentos o meia percebeu que seria necessário adaptar seu estilo de jogo ao do time, onde a criação das jogadas dava lugar a marcação e o posicionamento limitado no setor esquerdo do campo. Rabi precisaria também marcar. Em mais um capricho do destino, Bazani fez sua estreia justamente contra o Palmeiras. No ápice de sua carreira, imagino que Rabi foi para o estádio do Pacaembu confiante na vitória de seu novo time, todavia o Timão perdeu o embate e o primeiro gol dele sairia no quinto jogo da temporada, na vitória por 2 a 0 contra o Olaria do Rio de Janeiro.

Bazani enfrenta a Ferroviária pela primeira vez!


Imagino que em 1963, Bazani deve ter vivenciado um sentimento de difícil compreensão, quando encarou como profissional pela primeira vez a Ferroviária pelo Paulista, sendo palco da refrega a Fonte Luminosa. Fico pensando como deve ter se surpreendido quando recebeu vaias e xingamentos por uma ala da torcida. Ele não marcou gols, mas colaborou com o empate em 3 a 3. Mediante a estabilidade no Corinthians, Bazani amadurecia a ideia de não permanecer no Parque São Jorge, mirando maior dedicação ao ofício de dentista. Pensou em abrir um consultório na capital. Deixou o Corin¬thians depois de dois anos e quatro meses. Com o time alvinegro, foram 87 partidas e 15 gols marcados e nenhum título na bagagem. Rabi estava voltando para casa a fim de fazer história.

Regresso em grande estilo! Quando a Ferroviária o procura para retornar à Fonte Luminosa, o time passava por um momento difícil, e repatriar o ídolo foi uma das medidas tomadas. Bazani não fez grandes exigências. Queria apenas traba¬lhar e ter seu espaço na AFE novamente. O que poucos sa¬bem, é que Bazani assinou um contrato de risco por apenas oito meses de trabalho. Naquele curto tempo, teria a oportunidade de estender seu vínculo com a Ferroviária. O engenheiro Jáder Lessa César presidia o clube na oportunidade. Muitos discordaram da atitude do mandatário, com o qual a AFE caiu para a 1ª Divisão. Difícil imaginar um ídolo fazer esse tipo de acordo com seu ex-clube. Mas Bazani não pensou duas vezes e concordou. Queria apenas jogar futebol, estar próximo da família e abrir seu consultório odontológico na cidade. Rabi pôde desfrutar de mais oito anos de glórias com a camisa da Fer¬roviária, liderando o time no retorno a elite em 1966, com o Tricampeonato do Interior (1967/68/69), além da Taça dos Invictos. Sete anos depois, na noite de quarta-feira, dia 28 de março, a cidade lotou o estádio da Fonte Luminosa para ver o último ato do seu maior ídolo. Quase 20 anos depois de estrear na Ferroviária, o pequeno garoto de Mirassol já era um homem, um pai de família que havia realizado o sonho de ser jogador de futebol.

No centro do gramado da Fonte, todos estavam atentos ao último jogo do craque como profissional. Foram 45 minutos firmes, bem jogados diante do Guara¬ni. No momento de maior emoção para jogador e torcida, Bazani descalçou suas chuteiras e tirou seu manto grená. Em uma volta olímpica, suas lágrimas num misto de feli¬cidade e tristeza, agradeciam cada torcedor presente no estádio, como se estivesse agradecendo a todos aqueles que cruzaram sua vida até o presente momento. Terminava ali o seu capítulo de jogador da Ferroviária, e o pontapé inicial, para que a partir daquele instante as futuras gerações de torcedores como eu, dessem asas a sua imaginação! Bazani seguiu sua trajetória como funcionário do clube, respondendo pela orientação das categorias menores, do time profissional, que comandou em 12 oportunidades. Revelou inúmeros jogadores, conquistou títulos e o restante de sua folha de serviços prestada ao time que tanto amou não cabe nesse espaço.

Bazani é o atleta que mais vezes envergou o jaleco grená, tendo atuando em 758 duelos, além de ser o maior artilheiro na história do clube, com 244 gols. Bazani nos deixou no dia 13 de outubro de 2007, aos 72 anos. No dia 19 de abril do mesmo ano houve a inauguração de seu busto na entrada da Fonte Luminosa.